segunda-feira, maio 31, 2004

A BORDO DO NTM CREOULA - FAINA




O "Creoula" é um lugre de quatro mastros. Construído no início de 1937 nos estaleiros da CUF para a Parceria Geral das Pescarias, o navio foi lançado à água no dia 10 de Maio e efectuou ainda nesse ano a sua primeira campanha de pesca. Um número a reter é o facto de o navio ter sido construído no tempo recorde de 62 dias úteis.

As obras-vivas a vante, com particular destaque para a roda da proa, teveram construção reforçada uma vez que o navio iria navegar nos mares gelados da Terra Nova e Gronelândia.

Até à sua última campanha em 1973, o navio possuía mastaréus, retrancas e caranguejas em madeira. O gurupés, conhecido como "pau da bujarrona", que também era em madeira, deixou de existir em 1959, passando o navio a dispor apenas de duas velas de proa: giba e polaca. As velas que agora são em dacron, material sintético mais leve e mais resistente, eram na altura feitas de lona de algodão, possuindo o navio duas andainas de pano, que eram manufacturadas pelos próprios marinheiros de bordo. Cada andaina era composta por: giba, bujarrona, polaca, traquete, contra-traquete, grande e mezena, mais três estênsulas como gavetopes de entremastros, e um pendão redondo de içar no mastro do traquete. Além deste pano havia dois triângulos de tempo para envergar no mastro da mezena. O pano latino era feito com lona de algodão nº 2, o velacho (redondo) com lona de algodão nº 4 e as extênsulas com algodão nº 7, o mais resistente. As tralhas das velas eram em cabo de manila. Quanto ao aparelho fixo, esse sempre foi em aço, mas o de laborar era outrora em sizal.

O espaço que medeia hoje entre a zona da cobertura de vante (coberta das praças) e a casa da máquina, era na época o porão do peixe e em cujos duplos fundos se fazia a aguada do navio. O navio estava assim dividido em três grandes secções por duas anteparas estanques que delimitavam, a vante e a ré, o porão do peixe. A vante do porão ficavam os alojamentos dos pescadores, o paiol de mantimentos e as câmaras frigoríficas para o isco; a ré, os alojamentos dos oficiais, a casa da máquina, os tanques do combustível, o paiol do pano e aprestos de pesca. tinha ainda nos delgados de vante e de ré vários piques utilizados como reserva de aguada, armazenamento de óleo de fígado, carvão de pedra para o fogão e óleos lubrificantes.

Todo o interior do navio era revestido a madeira de boa qualidade e o porão calafetado para evitar o contacto da moura com o ferro.

O mastro de vante (traquete) servia de chaminé à caldeira e ao fogão de carvão, fogão este que se encontra hoje no museu marítimo de Ílhavo.
O seu casco, pintado de branco, permitia uma melhor percepção no nevoeiro, facilitando assim uma melhor orientação dos pescadores a bordo dos dóris.

Numa viagem de pesca normal , o Creoula navegava com 54 pescadores, 10 moços de convés, 2 cozinheiros, 3 oficiais de máquinas, 2 oficiais de ponte e capitão. Nos 54 pescadores estavam incluídos 9 marinheiros e um contramestre que acumulavam as suas funções com as da pesca.

O facto de este navio ser gémeo do Argus e do Santa Maria Manuela permitia a permuta de sobressalentes durante a campanha.

1 comentário:

Roberto Iza Valdés disse...
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